13 de maio de 2011
Resenha do filme "O Homem elefante"
John Merrick (John Hurt) é um inglês que vive recluso em um circo por ter uma doença que desfigurou seu rosto. Ele é descoberto por um médico (Anthony Hopkins), que deseja integrá-lo à sociedade não como um “esquisito”, mas como alguém normal e culto. O problema é que as pessoas não estão prontas para isso, e John terá que sofrer muito para ser tratado como ser humano.
Resenha do filme "O Homem elefante"
Danúbia dos Santos Vieira- aluna do primeiro semestre do curso de Psicologia da faculdade IENH
O filme "O Homem Elefante" de David Linch, que assistimos na disciplina de Antropologia Social, conta a história real de John Merrick, jovem que viveu na Inglaterra do século XIX e possuia uma doença genética que deformou seu corpo.
Na história, podemos distinguir perfeitamente o significado de conceitos como alteridade ou “relação com outro”, assim como etnocentrismo presente na relação das pessoas com John Merrick.
O filme tem muitas cenas marcantes e emocionantes, começando ela emoção do médico ao ver Merrick a sua frente. O seu entusiasmo é tão grande que ele paga um valor ao “proprietário” de Merrick (ele vivia em um circo e era apresentado como atração bizarra) para apresentá-lo aos colegas de medicina, mostrando a anatomia do jovem totalmente diferente da convencional e surpreendente .
Merrick para muitos era considerado uma aberração, mas o médico viu muito além de sua anatomia. Em um primeiro momento até o viu como um achado, mas ao conhecer quem realmente era Jonh Merrick, seu sentimento se transformou em respeito e admiração pelo ser a sua frente.
A sua aparência não era bela, e desde pequeno sofreu as conseqüências do preconceito, o abandono seguido dos maus tratos de seu “proprietário” que o apresentava no circo como o “O Homem Elefante”.
Conforme o que discutimos em aula a partir do texto “ O desenvolvimento do Conceito da Cultura, “O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado”. Nesse sentido, pode-se perceber a própria aceitação por parte das pessoas e até dele próprio como "aberração de circo", em vez de ser aceito como ser humano.
Merrik era extremamente sensível e inteligente, mas como ele estava condenado a ser o "homem elefante" desde o seu nascimento, o próprio se reconhecia, mesmo com todo sofrimento, como um ser diferente, anormal e até como um "monstro".
Podemos verificar com o filme que a cultura é introduzida na nossa sociedade de várias maneiras, e às vezes ela nos condiciona a reagir de forma negativa em relação ao “outro”. Aqueles que não se enquadram no "padrão culto da sociedade" ou comunidade, são alvos de preconceitos, conforme Kroeber “ A cultura mais do que a herança genética, determina o comportamento do homem e a justiça de suas realizações."( Kroeber,p.48)
Um exemplo que justifica a afirmação dessa frase no filme seria o dono do Circo se dizer "dono" de Merrick, ou considerá-lo como um "ganha pão", devido a sua deformidade genética, por ele não ser considerado “normal”, dava o direito de propriedade a algum sujeito com fisionomia perfeita.
Por outro lado, vemos o comportamento do médico que busca ajudar Merrick. É comovente, a vontade e o esforço do médico em entender o que ele sentia, ou pensava naquele momento, "para os demais não o julgarem como um aparelho”, objeto de curiosidade com uma deformidade.
Aquele ser enfermo, cheio de deformidades externas causa grande discussão entre os membros da sociedade médica, por não aceita-lo. Mas, na medida em que o tempo passa, Merrick descobre ou redescobre o seu lado humano, deixando aflorar a sua intelectualidade e sua sensibilidade não se vendo mais como aquele ser apavorante. Ele se aceita, independente de o médico poder curá-lo.
A repercursão de Merrick na sociedade, “comove” a rainha, e faz com que ela se posicione em favor de sua residência no hospital. Essa parte do filme mostra mais uma vez a influência de um poder maior (no caso a Rainha que representava o Estado) de realizar uma ação (aceitação de Merrik como morador permanente do hospital) para garantir os direitos humanos a um cidadão. A decisão foi acatada pelo conselho médico, que já demostrava certa contrariedade à permanencia de Merrik no hospital.
O filme retrata bem a impressão que temos de algo ou alguém diferente do que nos é apresentado, sentimos repulsa, pena ou pré-conceito sem antes analisar ou se colocar no lugar do outro, na condição do outro.
Uma cena que me comoveu muito foi o lado sentimental de Merrick ao conhecer a esposa do médico, que era muito bela e o tratou com carinho e educação. Primeiro ele chora e depois comenta “que era a primeira vez que ele era bem tratado por uma bela mulher”.
Esse sentimento de se sentir bem diante de uma dama é logo transformado em um sentimento de medo ou pavor com a presença do vigia noturno, que o submete ao ridículo diante das outras pessoas por ser diferente. Ele sentia prazer em apavorá-lo em frente de um espelho .
Trazendo essa história para nossos dias, podemos identificar a questão de quem é considerado “normal” ou "anormal" em nossa sociedade moderna. Também quando se busca tirar proveito e vantagem do mais fraco ou rejeitado. E quem de nós consegue bater de frente com as situações impostas sem sofrer as conseqüências?
Na época, Merrik bateu de frente com o seu ex dono quando ele queria o levar novamente para aquela vida de miséria. Reagindo, e se negando a agir como um elefante, ele não estava mais disposto a ser tratado com indiferença ou como um animal e ficar calado, não depois de ter tido a oportunidade de ser bem tratado independente de sua deformidade.
Situações similares a de Merrik podem ser encontradas na atualidade, onde muitas pessoas ou crianças sofrem preconceitos por serem gordinhas, negras, pobres ou "feias" (no conceito de beleza ditado pelos meios de comunicações). Quantos são explorados sutilmente sem se darem conta, ou quando se dão conta, o tempo já não contribui mais para ser revertida a situação?
Merrick, no final do filme, mostra a todos que ele já não aceitava mais aquela situação em que viveu grande parte de sua vida por causa de sua deformidade. Ao chegar na estação e ser perseguido pela multidão ele grita dizendo: " Não sou um animal, sou um Ser Humano”.
O filme do "Homem Elefante" nos traz muitas lições e nos ilustra uma série de questões que enfrentamos ainda hoje nas relações humanas.
Se todos nós tivéssemos essa consciência de não sermos encurralados ou nos deixar encurralar pelos outros ou simplesmente aceitar "costumes" e "heranças" preconceituosas que já herdamos ao nascer em uma sociedade que é dominada pelo consumismo, por visões etnocêntricas e racistas, com governos deficientes e uma cultura que na maioria das vezes não representa a realidade da maioria das pessoas, viveriamos bem melhor.
Temos que aprender a respeitar as diferenças, se colocar no lugar do outro, entender, aceitar que somos diferentes nas nossas particularidades, e isso deve ser respeitado e não criticado.
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Um filme muito bacana...uma ótima resenha, Danúbia!
ResponderExcluirDanúbia,
ResponderExcluirLindíssima produção!
Renata Roos
muito bom, ótima resenha, parabéns!
ResponderExcluirFilme triste onde o ser humano diferente é mal tratado .
ResponderExcluirmuito boa a resenha me ajudou muito a analisar o filme. parabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirO filme é ótimo, mas muito comovente. Eu associe o filme c o texto de marques..A Construção do anormal: uma estratégia de poder.
ResponderExcluirOnde o sentido atribuído à deficiência na modernidade e, de certa forma, o de "anormalidade", "desvio", ou " fuga" da normalidade.
O filme o homem elefante deixa uma dose de encorajamento pra todos nós, as vezes é preciso gritarmos para fazer o outro ouvir nossa voz, somos sim diferentes e precisamos respeitar todas as diferenças. Parabéns a Danúbia pela resenha bem reflexiva.
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