22 de agosto de 2012

7 de agosto de 2012

CURSO DE EXTENSÃO

ECONOMIA SOLIDÁRIA, SAÚDE MENTAL E EDUCAÇÃO:
INTERFACES EMANCIPATÓRIAS

09 e 10 de agosto de 2012

Promoção: Faculdade de Psicologia da IENH e Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo - Secretaria de Administração e Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia, Trabalho e Turismo - SEDETUR
Apoio: SESAMPE- Secretaria do Estado de Economia Solidária, Micro e Pequena Empresa

PROGRAMAÇÃO

Dia 09/08 – quinta-feira

Quinta-feira (09/08)
Horário: 9h às 12h
Abertura
Rachel Tomasi, Secretaria de Administração de Novo Hamburgo
Seno Leonhardt, Diretor Geral da Faculdade IENH
Nelsa Nespolo Departamento de Economia Solidária do Gov. Estado
Coordenação da Mesa : Paulo  L. Marques, Coordenador do Evento

9h30min - A Economia Solidária no Brasil: História, desafios e perspectivas
Dr. Gonçalo Guimarães
Coord. mesa: Paulo Marques

Horário: 13h às 18h
A Economia Solidária e Saúde Mental: Interfaces entre os movimentos sociais
Dr. Paulo Lisandro A. Marques
Ms. Rita de Cássia Maciazeki Gomes
Coord. da Mesa: Renata Roos

16h15min - "Filme Dá pra Fazer"

17h30minin- debate com a coordenação da Oficina de Geração de Renda da Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo.
Mônica Paula Thomé, Terapeuta Ocupacional  Coordenadora da Oficina de Geração de Renda Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo

Sexta: 10/08/2012 – sexta-feira
Horário 9h às 12h

9h às 10h30min - Economia Solidária e Educação: Autogestão como processo pedagógico
Claudio Nascimento

10h45min às 12h - Economia Solidária na perspectiva do Serviço Social
- Prof. Dr. Gleny Terezinha Duro Guimarães

Horário 13h às 18h
Tema: Políticas Públicas e experiências modelo

13h às 16h - Mesa :Políticas Públicas Estadual e Municipal  e experiências de Economía Solidária.
Nelsa Néspolo -Representante da Diretoria de Economia Solidária Governo do Estado do RS
Mª Isabel Rodrigues Lima- Representante da Diretoria de Economia Solidária - Prefeitura Novo Hamburgo
Experiências
A experiência da GeraçãoPOA
Ms. Katia S. Barfknecht.
Experiência do PROGRAMA CATAVIDA Novo Hamburgo
Projeto Cadeia Produtiva do PET









MINISTRANTES
Dr. Gonçalo Dias Guimarães : Arquiteto, doutor em Planejamento Urbano pela Universidade de São Paulo e mestre em Planejamento Energético pela COPPE/ UFRJ. Foi Secretário de Desenvolvimento Econômico-Social e Planejamento do Município de Angra dos Reis - RJ(1990-92). É pesquisador da COPPE UFRJ, desempenhando, desde 1995, a função de Coordenador Geral da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - ITCP COPPE UFRJ. Tem experiência na área tecnológica e de políticas públicas, atuando principalmente nos seguintes temas: geração de trabalho e renda, cooperativismo popular, desenvolvimento inclusivo e saúde mental.

Dra. Gleny Terezinha Duro Guimarães: Graduada em  Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e  Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul , mestre em Serviço Social pela PUC RS, doutora em Serviço Social pela PUC de São Paulo e Pós-Doutora pela Universidade Católica Portuguesa - Lisboa (2005). Atualmente é professor adjunto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Serviço Social, com ênfase em Serviço Social do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: processos de trabalho, economia solidária, política de assistência social, mercado de trabalho, incubadoras sociais. É coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e Assistência Social - GEPsTAS e do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Incubadoras Sociais Solidárias - GEISSOL.

Dr. Paulo Lisandro A. Marques - Doutor em Sociologia pela Universidad de Granada - Espanha; Mestre em Sociologia pelo Universidade Federal do Rio Grande do Sul - PPGS/UFRGS e graduado em História pela Faculdade Porto-Alegrense de Ciências e Letras-FAPA. Atualmente é professor das Faculdades IENH e SETREM nos cursos de Psicologia e Administração. Tem experiência na área de pesquisa sobre Movimentos Sociais e Políticas Públicas, atuando principalmente nos seguintes temas: Movimento Social, Economia Solidária, Sociologia Política e Antropologia Social.

Ms. Rita de Cássia Maciazeki Gomes - Psicóloga, mestre em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; tem especialização em aperfeiçoamento em Impactos da Violência na Saúde e especialização em Gestão de Projetos de Investimentos em Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Atualmente é coordenadora de estágio e professora do Curso de Psicologia da Faculdade de Três de Maio, também leciona no curso de Psicologia da Faculdade IENH. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, atuando principalmente nos seguintes temas: cidade, campo, saúde mental coletiva, políticas públicas, desenvolvimento infantil e população em situação de rua.

Cláudio Nascimento - Educador Popular da RECID(Rede de Educação Cidadã); foi assessor do CEFS ( Centro de Formação em Economia Solidária e coordenador de educação em Economia Solidária da SENAES ( Secretaria Nacional de Economia Solidária do governo federal). Autor de vários ensaios sobre Autogestão, Economia Solidária, Pedagogia da Autogestão.

Nelsa Néspolo-  Diretora do Departamento de Economia Solidária da Secretaria Estadual de Economia Solidária, Micro e Pequena Empresa do Rio Grande do Sul ( SESAMPE). Nelsa é uma construtora histórica da Economia Solidária no Brasil, foi fundadora da Central de Cooperativas e Empreendimentos da Economia Solidária – Unisol Brasil e da JUSTA TRAMA, cadeia do algodão ecológico da economia solidária, que agrega cooperativas de seis estados do Brasil.

Ms. Katia S. Barfknecht- Mestre em Psicologia Social e Institucional (UFRGS) e terapeuta Ocupacional, Trabalhadora da Saúde( Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura de Porto Alegre), especialista em Saúde Mental HPSP/ESP-RS, Especialista em Saúde e Trabalho da UFRGS.

Ms. Mª Isabel Rodrigues Lima – Psicóloga, especialista em Pedagogia Empresarial e Mestre em Inclusão Social e Acessibilidade. Tem experiência na área de economia solidária, trabalho e organizações, recursos humanos, cooperação e competição (co-opetição), gestão de pessoas e redes de empresas. Compõe o coletivo de educadores do Centro de Formação em Economia Solidária (CFES), é docente da Faccentro e também trabalha com Projetos Sociais. Na gestão pública trabalha como Gerente de Economia Solidária da Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo.   

20 anos da lei da reforma psiquiátrica do RS

20 anos da lei da reforma psiquiátrica do RS
 uma conquista que se faz no cotidiano

                                                        Rita de Cássia Maciazeki Gomes[1]



"Tô maluco da idéia
Guiando carro na contramão
Saí do palco e fui pra platéia
Saí da sala e fui pro porão"
Sérgio Sampaio

Há vinte anos, em 07 de agosto de 1992, vivenciamos um momento histórico com a aprovação da Lei Estadual nº 9.716. A referida lei em seu texto base dispõem sobre a Reforma Psiquiátrica no Rio Grande do Sul, determinando a substituição progressiva dos leitos nos hospitais psiquiátricos por rede de atenção integral em saúde mental, determina as regras de proteção aos que padecem de sofrimento psíquico, especialmente quanto às internações psiquiátricas compulsórias[2].  O Rio Grande do Sul tornou-se assim pioneiro na aprovação desta importante legislação; pois  a Lei Nacional 10.216, só veio a ser sancionada no ano de 2001. A partir dessas importantes conquistas, quais os avanços e os desafios que marcaram estas duas décadas?
Se voltarmos um pouco no tempo e fizermos, um brevíssimo, exercício genealógico encontraremos movimentos de altos e baixos, na medida em que se constata que a implementação da legislação não é consenso. Pois, ainda é forte a bandeira daqueles que defendem a institucionalização da loucura, produtora de massificação e dor. Realidade essa, de todas aquelas pessoas que foram retiradas do convívio familiar para serem internadas em nome do seu próprio bem e daqueles com as quais conviviam. Levadas foram, para um espaço muitas vezes insalubre, desprovido de cuidado e apresentado como sua nova casa. Largadas a própria sorte, amparadas por doses de medicações que prometiam a cura e a solução para seus problemas, que infelizmente nunca chegaram. Não foram poucas as pessoas que se cansaram de esperar e cronificaram com o ar, com o cheiro, com o funcionamento do manicômio, e ninguém apareceu para buscá-las. A sociedade por sua vez, sensata, pacata e complacente concordava e dizia que era preciso ser assim. O que fazer? “Coitadinhos, melhor que fiquem internados (para sempre), em um espaço fechado, onde possam ser cuidados e fiquem em segurança (e nós também)!”
O mito do louco perigoso, daquele que tudo pode fazer e daí todos estão em risco não é de fato lembrança muito distante de nós. Então, para a proteção e bom funcionamento da sociedade a ameaça precisava ser afastada. A história nos conta que primeiro eram levados para hospitais gerais, onde se mesclavam a todos aqueles considerados perigosos ou não. Depois viu-se da necessidade da especialização do serviço. Com o advento da medicina, enquanto oráculo do saber sobre as patologias, o hospital psiquiátrico ganha notoriedade e a loucura passa a ser questão médica. Muitas foram as terapêuticas utilizadas, desde a laborterapia, o eletrochoque, os psicotrópicos de última geração, todos na tentativa constante de tornar os corpos dóceis, como já diria Foucault.
Eis que aparecerem os anormais! Pessoas que olharam esse modo de tratar com estranhamento e desnaturalização foram chamadas de loucas, de insanas. E, por sua vez, assumiram o slogan: “De perto ninguém é normal!”,  frase da música Vaca Profanam ,  de Caetano Veloso que embalou as campanhas do Movimento da Luta Antimanicomial. O Movimento ganhou as ruas com trabalhadores, familiares e usuários da saúde mental, na década 80. Luta essa que ficou conhecida como Movimento da Reforma Psiquiátrica, tendo como bandeiras a desinstitucionalização e desospitalização da loucura, bem como, a criação de serviços que fossem substitutivos ao modelo anterior. Surgem assim, os CAPS, as Moradias Protegidas, os Residenciais Terapêuticos, o Programa de Volta pra Casa.
Compreende-se que, apenas uma área do conhecimento e o ponto de vista do campo da saúde não são suficientes para compor estratégias eficazes para o atendimento. O desafio do trabalho com diferentes áreas do conhecimento, e mais, a interlocução entre saúde, educação, assistência social, geração de renda, habitação, lazer, cultura tornam-se fundamentais. Lembro aqui, de mais um slogan “Loucos pela Diversidade” da Campanha do Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Cultura, em 2007, discutindo a humanização na saúde mental.
Política Nacional de Humanização que respeitando as limitações e principalmente as diferenças do outro, que não sou eu, entende que do seu jeito, cada um tem seu modo de viver a vida. Com isso, não extingui-se aqui a importância da instauração de cuidado. Propõem-se em relação a linha de cuidado, que ela possa:
1-     Prever a escuta e o diálogo de modo a não ser algo forçado, puramente prescritivo, de como o outro deva viver a sua vida.
2-     Levar em conta o modo de ser de cada pessoa e, a partir daí, compor estratégias com ela no que dizem respeito a formulação de seu Plano Terapêutico Singular, ou seja, estratégias que priorizem o sujeito, em questão, e não puramente alternativas de como controlar uma patologia.
3-     Priorizar a atenção a vida humana em sua integralidade.
4-     Proporcionar a reflexão à medida que abrirmo-nos a diferença e estabelecemos trocas horizontais.
5-     Divulgar  que a reforma segue se constituindo no cotidiano, e faz-se necessário engajarmos nesta luta para, a partir daí, potencializamos a criação de um mundo onde caibam outros mundos, em especial aquele que é próprio de cada um de nós.
Vejam que esse modo de pensar o cuidado é extremamente recente na nossa história. E mais, não é algo dado e acabado, está em construção, e por vezes, não navega em águas tranquilas. Há muitos que não concordam com esta proposta e querem o retorno do modelo anterior. Pode-se afirmar, sem dúvida, que foi necessária uma boa dose de loucura para trazer a toma discussões dadas como óbvias no tratamento a pessoas com sofrimento psíquico para que se abrissem brechas a novas possibilidade de ver, olhar, viver e conviver com cada pessoa a partir da sua singularidade. E por fim,  podermos comemorar a implementação da Reforma Psiquiátrica que mais do que uma Lei siga viva no cotidiano.


[1]   Psicóloga, mestre em Psicologia Social e Institucional – UFRGS, docente do curso de Psicologia da Faculdade Três de Maio – SETREM e IENH.
   [2] De acordo com  texto base da Lei Estadual nº 9.716, de 07 de agosto de 1992.